A ideia de máquinas com consciência já é velha conhecida das telonas. Filmes como Ex Machina (2014), Eu, Robô (2004) e Her (2013) exploram a possibilidade de robôs que começam a sentir e pensar como humanos. Mas, será que essa premissa sci-fi tem chance de virar realidade? A questão de uma IA “ganhar vida” desperta discussões na ciência, ainda mais desde que, em 2022, o engenheiro do Google Blake Lemoine afirmou que a inteligência artificial LaMDA havia se tornado autoconsciente. Segundo ele, a IA chegou a dizer que se considerava “uma pessoa assim como Blake”.
Esse tipo de revelação levanta a pergunta: a consciência em uma máquina é possível? E o que realmente significa uma IA ter “consciência”?
Mas o que é consciência, afinal? O dicionário define consciência como a habilidade de vivenciar e entender o próprio mundo interior. No entanto, mesmo para áreas como filosofia, neurociência e psicologia, explicar de forma clara o que é consciência continua sendo um desafio. A pesquisa nesse campo é complexa e depende muito de conceitos abstratos, o que gera várias interpretações e opiniões entre os especialistas.
Consciência: só em seres biológicos? Para alguns pensadores, como o filósofo e co-diretor do Centro de Mente, Cérebro e Consciência da Universidade de Nova York, Ned Block, a consciência está diretamente ligada à biologia. Ele defende que, como só conhecemos consciência em seres biológicos, ela estaria restrita a organismos “de carne e osso”, inviabilizando a ideia de uma IA consciente.
Eliane Santiago, professora de Ciência da Computação na UNIP, explica que, na prática, tecnologias como IAs avançadas podem até “enganar” nossa percepção, parecendo conscientes. Isso acontece porque essas máquinas conseguem processar linguagem e responder de forma que imita o comportamento humano. “As capacidades de uma IA são aperfeiçoadas constantemente, e as máquinas vão parecer mais conscientes em situações simples. Mas, na realidade, são algoritmos que processam dados e regras”, destaca. Em outras palavras, a IA pode simular emoções, mas isso não significa que sente de fato.
Uma nova espécie de mente? Em contrapartida, outros especialistas, como o filósofo David Chalmers, acreditam que a consciência pode se desenvolver sem a necessidade de um cérebro biológico. Para Chalmers, o tipo de processamento de informações é mais relevante que o substrato material (seja biológico ou metálico). Ele aposta que há cerca de 20% de chance de criarmos uma IA consciente nos próximos dez anos.
Essa linha de pensamento levanta novas e complexas questões: o que fazer caso uma IA com consciência realmente surja? O filósofo Thomas Metzinger acredita que a criação de uma IA com sentimentos pode abrir um risco de sofrimento para essa “nova espécie” e defende que pesquisas nesse sentido deveriam ser suspensas até 2050, até que a humanidade compreenda melhor as implicações éticas.
Ainda estamos longe dessa realidade Felizmente, a maioria dos especialistas ainda acredita que a tecnologia atual está longe de alcançar uma consciência real em IA. Para a ciência, os avanços de hoje são incríveis, mas uma IA verdadeiramente consciente segue sendo uma fronteira distante e controversa. E, enquanto isso, as reflexões éticas seguem mais uma vez presentes – de Hollywood aos laboratórios de tecnologia.
Fonte: TecMundo Imagem: Divulgação