Um mercado pouco conhecido, mas extremamente lucrativo, está chamando a atenção na América do Sul. Os cálculos biliares bovinos, pedras formadas na vesícula de algumas vacas, são utilizados há séculos na medicina tradicional chinesa e hoje movimentam milhões no comércio global.
No centro das investigações está o Uruguai, onde transferências suspeitas de dinheiro da China para contas locais levantaram o alerta do Ministério Público. Segundo Enrique Rodríguez, fiscal do caso, o volume de remessas financeiras entre 2020 e 2023, sem registro de operações comerciais legítimas, indicava um mercado ilegal de cálculos biliares bovinos.
Por que as pedras são tão valiosas?
Os cálculos biliares de vacas são usados na medicina tradicional chinesa, japonesa e coreana para tratar condições neurológicas, como acidentes vasculares cerebrais e convulsões. Transformadas em pó ou cápsulas, essas pedras são tão raras que podem alcançar valores de até US$ 200 (cerca de R$ 1.300) por grama, superando o preço do ouro.
Estima-se que apenas 2% das vacas abatidas apresentem esses cálculos, geralmente encontrados em animais mais velhos. A China, maior consumidora, produz cerca de uma tonelada por ano, mas a demanda atinge cinco toneladas, forçando o país a buscar fornecedores no exterior.
Brasil no topo da lista
O Brasil lidera as exportações de cálculos biliares bovinos para Hong Kong, movimentando US$ 148 milhões em 2023, um salto expressivo nos últimos quatro anos. Outros países como Austrália, Colômbia, Argentina e Paraguai também se destacam nesse mercado.
Protocolos, contrabando e assaltos
Para atender à crescente demanda, países como Argentina e Uruguai estão formalizando protocolos de exportação para a China. No entanto, o alto valor do produto também atrai o mercado negro.
Casos de roubo já foram registrados no interior de São Paulo, onde ladrões levaram 2,7 kg de pedras avaliadas em R$ 2 milhões. Em Brasília, a polícia descobriu um lote falsificado com alto teor de ferro. Na Argentina e no Uruguai, as pedras têm sido alvo de contrabandistas, com condenações por lavagem de dinheiro e transporte ilegal.
Uma investigação em expansão
No Uruguai, quatro pessoas já foram condenadas por envolvimento no mercado ilegal de cálculos biliares. Entre os condenados estão dois irmãos que movimentaram mais de US$ 786 mil (aproximadamente R$ 5 milhões) em três anos. As investigações continuam e devem focar nos frigoríficos que fornecem as pedras e nos intermediários do comércio.
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